sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Thomas Couetdic & Kazuma



Uma pergunta que ouvi mais de uma vez no Encontro Brasil-França foi: “E aí? Você ainda odeia gringo?”.

Vamos colocar os pingos nos “i”. Eu jamais falei isso. Apenas não nutro, por pessoa alguma, senso de adoração. Um psicanalista poderia catalogar essa minha postura como “orgulho, inveja ou apatia”, mas asseguro que não se trata de nenhum dos três. É que desde pequeno aprendi a não ter ídolos. Aprendi a admirar as pessoas, sem precisar idolatrá-las. E um ídolo pra mim é algo meio divino, as pessoas o adotam como modelo da perfeição e se esquecem de que aquele é apenas outro ser humano, como ele mesmo.

E é assim que eu escolho começar uma postagem falando sobre o Kazuma e o Thomas.

Essa característica de não bajulação era muito presente no grupo com quem eu me encontrava e estabeleceu a conexão na medida certa que precisávamos para construir um elo saudável para a troca de experiências. Pra se ter uma idéia a lembrança mais forte que tenho do Thomas é ele dizendo: “Duddu, o Belle se casou, mas mesmo se não tivesse, você não teria chance porque ele não é gay.”. E a do Kazuma seria ele pegando na minha mão e a gente andando que nem duas amigas no recreio em pleno shopping.

Tenha calma... já vou postar o que você quer ler... mas o blog é meu então sente aí e espere... ¬¬

A maior parte do dia do Thomas é com uma peste de uma moeda na mão e fazendo-a sumir e reaparecer das mais variadas formas possíveis. O engraçado é que ele faz com tanta vontade de melhorar e te pede tanta opinião que você acaba adquirindo gosto pela coisa e aprende vários truques bacanas. Já o Kazuma é o homem das pernas mais bonitas que eu já vi. Menino, quando eu o chamei de “coxudo” e expliquei o que significava... PRONTO! Aí foi que ele começou a forçar mesmo! Parecia um desfile: de cueca, de toalha, de sunga, de toalha rasgada na bunda... hhuahuahuahuahuhuahuahuhu

Mas deixa tudo isso pra lá e vamos ao que interessa!

São duas pessoas ALTAMENTE OPOSTAS quando o assunto é Parkour. Eu buscava pelos pontos em comum e não os encontrava. Se definisse o Kazuma como um Tigre dentes-de-sabre, o Thomas seria um... um... gatinho do Shrek (bonitinho, fofinho mas que sabe cumprir perfeitamente o seu papel).

Eu sei que é tosco fazer comparações quando o assunto é Parkour mas é que era muito estranho! Pra não ficar citando os nomes deles alternadamente, eu vou escrever minhas impressões sobre cada um em blocos separados e você que se vire pra entender.

O Thomas é um cara muito tranqüilo. No início eu achava que ele estava com vergonha da gente porque ele ficava muito calado. Depois que já estávamos mais íntimos, eu pude ver que aquele era um traço de sua personalidade e que, por sinal, refletia em seu modo de treinar Parkour. Ele é extremamente calculista, perfeccionista e concentrado. E não pense que aquela mimosidade toda é sinônimo de fragilidade não... ele é muito forte! Forte ao ponto de durante os workshops conseguir fazer 2 vezes a quantidade de nossos esforços e sem cansar. O resultado não poderia ser outro: os treinos que o Thomas nos convidava a fazer exigiam mais equilíbrio mental do que físico.

Em Brasília ele me falou: “Não importa se é a primeira repetição ou a última, você tem que manter a mesma atenção e vontade. Tente esquecer o mundo a sua volta e se concentre no que você está ali pra fazer”. Estávamos em um grupo de 10 pessoas fazendo um treino de precisão. A meta era contabilizar 10 pontos, sendo que cada ponto só era ganho quando TODAS as 10 pessoas acertassem a precisão consecutivamente. A distância eu acredito que era cerca de 9 a 10 pés com desnível. Não era tão difícil assim, mas a pressão psicológica por saber que o grupo inteiro iria se prejudicar caso eu errasse me preocupava muito. Acho, inclusive, que eu fui um dos que mais falhei. Mesmo que todos ali soubessem que pouco importava “finalizar o jogo”, aquilo era um treino de “agora é minha vez, não posso falhar”. Meu psicológico vacilava às vezes.

Cara, a concentração do Thomas é imensa! Naquela tarde treinamos essa precisão (somente ela) por cerca de 2 ou 3 horas... eu vou chutar que fizemos 500 precisões. Dessas 500 eu vi ele errar 2. DUAS! E isso quando estávamos no final. Quando o pé dele escorregou do murinho, ele olhou pra mim e disse: “Droga! Errei a primeira” e eu respondi: “Eu sei! (seu filho da puta!)”.

Fora isso ele é um cara que consegue se satisfazer com pouco. Quando visitamos a Lagoa, no RJ, ele enfezou em um percurso que envolvia 4 passadas em desnível. Era uma seqüencia um tanto arriscada mas que eu o vi repetir umas trocentas vezes. Cada hora ele fazia questão de incrementar algo: uma posição melhor de mão, um jeitinho mais legal de encaixar o pé... e nisso se a gente deixasse ele ia noite adentro.

Quando questionado sobre o Parkour Generations e Belle, a impressão que me ficou (embora ele não tenha dito com todas as letras) é que o trabalho deles com a PKGEN é praticamente o que todo mundo esperava que o Belle houvesse feito, e ele não fez. O Thomas não o criticava, ao contrário, falava muito bem dele e dizia que ele sabe viver sua vida. Não é porque ele é o “criador” do Parkour que é obrigado a dedicar a vida a isso. Ele tem outros objetivos, quer fazer outras coisas e ninguém tem nada a ver com isso. E é nesse ponto que o olho do Thomas brilha. Ele protege e defende a iniciativa do PKGEN com unhas e dentes. Dá pra notar que não é porque ele faz parte, mas porque o cara quer viver pra servir aquela causa e manter os princípios da atividade vivos.

Deixando o senhor Couetdic de lado, vou escrever agora sobre o senhor Rognoni.

Pra começar nunca o chame de Steve Rognoni. Ele é revoltado com o nome que os pais lhe deram e por isso quando ficou mais velho escolheu o seu próprio: Kazuma (extraído de um anime). Ah... nem falei que os dois são fanáticos por animes né? Pois são. Voltando: Se o Thomas é o cara “eu-quero-fazer-bem-feito” o Kazuma é o cara “foda-se-eu-quero-é-chegar”. Fazia muito tempo que eu não via alguém se jogar de cotovelo em um muro ou chapar o pé com toda a força no chão. As precisões dele pareciam que iam tirar o planeta de órbita, porém a força da perna do cara segurava qualquer impacto. O cara quando se movia parecia uma locomotiva: “o que tiver na frente eu passo por cima... ou derrubo!”.

Os workshops que passava se focavam mais nessa questão da agressividade. Normalmente ele nos fazia cansar no inicio e então, do nada, enquanto o grupo todo (ele inclusive) se encontrava no chão fazendo flexões, olhava pra gente com aqueles olhinhos puxados e dizia: “Vamos continuar fazendo as flexões, mas estão vendo aquele muro e aquela arvore? Quando eu der o sinal a gente corre, sobe o muro, salta de lá de cima, volta correndo, faz essa rotina 5 vezes seguidas, assim que terminar sobe de novo, salta pra arvore, volta pra cá, faz outra vez...” Você tá entendendo? Essa criatura queria nos matar! Eu só via o Zico urrando que nem um animal e o Thiago Lima se esborrachando no chão de tão exausto.

Mas havia um propósito. Ele nos disse que fazer um percurso em condição física normal é muito fácil, mas que Parkour lida com a movimentação continua mesmo em cima do desgaste físico. Se você aprende a se mover quando o seu corpo pede pra parar, aí sim você está fazendo algum progresso. Eu tive diversas vezes problemas em concentrar minha respiração e o que tanto o Kazuma quanto o Thomas berravam a todo momento era: “Você ainda consegue respirar, então você não está tão cansado! Diminua o seu ritmo, mas JAMAIS pare”. Cara, quando o Kazuma via você parar... ele corria e te dava uns empurrãos ou te enchia de soco e beliscão (Lissescão como ficou conhecido)! oO

Esse espírito guerreiro de manter a movimentação, não importa o esforço empregado, foi uma das maiores lições que aprendi e que faço questão de recordar a cada novo treino que faço.

O Kazuma, apesar de ministrar alguns workshops, não faz parte do Parkour Generations. Na verdade, de grupo nenhum. O PKGEN meio que tomou as rédeas do Parkour mundial nas mãos e disse: “Nós iremos guiar vocês pelo caminho da luz”. Já o Kazuma é daqueles que defende que as próprias pessoas devem encontrar esse caminho e não uma instituição o apontar. Ele tem o sonho de construir um Parkour Park em uma fazenda e anunciar: “Tracers do mundo todo, aqui vocês podem treinar sem serem incomodados! Venham! Se hospedem! Passem o tempo que quiser! E tragam dinheiro pro churrasco!”. Eu fiquei de cara quando ele falou isso. O cara é um fofo. Pelo que descrevi é meio fácil concluir que ele não é muito fã do ADAPT né? (Enquanto o Thomas defende o programa ferrenhamente).

Ah eu vou parar de escrever por aqui... tem um bocado de outras coisas mas eu num sou fi di rapariga pra escrever tudo não. Quando a gente se vê de novo você liga um USB na minha testa.

Ah... e eles não fedem e bebem muita água!
Bjos

sábado, 1 de agosto de 2009

De Volta Ao Real




Eu estava sentindo falta... falta mesmo. Até podia ter atualizado o blog antes, mas acho que o turbilhão de informações que minha cabeça recebeu ultimamente ia criar posts altamente desconexos e que até mesmo eu quando os lesse daqui a algum tempo não iria compreender.

Do dia 06 até o dia 26 de Julho, eu estive na maior viagem que já fiz em minha vida. Saca só o trajeto:

Aracaju – Salvador
Salvador – São Paulo
São Paulo – Rio de Janeiro
Rio de Janeiro – Belo Horizonte
Belo Horizonte – Brasília
Brasília – São Paulo
São Paulo – Salvador
Salvador – Aracaju

Nem eu sei como suportei. O estresse tanto físico quanto mental era evidente do meio da excursão pro final e tudo que eu pensava era em voltar pra casa.

Em contrapartida vivi momentos maravilhosos. Como se não bastasse o fato de poder visitar os maiores picos do parkour brasileiro, o GT estava unido novamente (com exceção do Jarbas). Eu acho incrível como moramos tão longe uns dos outros e nos damos tão bem pessoalmente. A sensação é de que não houve intervalo de um encontro pro outro; meio que um “pause” que é apertado quando nos separamos e é reapertado quando nos reencontramos.

Durante a viagem, ainda tivemos como companheiros de jornada o Kalebe, o Vítor, o Luiz Martinez e os franceses Thomas e Kazuma. Como pode ver, eu tive uma oportunidade de ouro pra aprender com tanta gente com tanto pra passar adiante.

O roteiro começou com o “Encontro Brasil-França”, depois passamos três dias no Rio de Janeiro, seguimos pra Belo Horizonte e ficamos um dia por lá, e depois partimos pro evento “Partour” que aconteceu em Brasília.

O “Brasil/França” foi uma surpresa pro GT porque a aceitação do público ao evento foi maciça. O espaço tornou-se até minúsculo para a quantidade enorme de pessoas que compareceram (estimo que umas 400). O Kazuma e o Thomas se incomodaram um pouco (tá... não foi só um pouco) com a quantidade de praticantes e infelizmente o esperado Workshop só rolou para aqueles que estavam no pé deles.

Eu fico feito um passarinho que caiu do ninho nesses eventos. Não sei pra onde olho, não sei com quem eu falo, não sei pra onde vou. São muitas pessoas que eu gostaria de passar horas conversando ou treinando, mas o tempo é minúsculo pra tudo que tenho vontade. Então sempre volto pra casa com essa sensação de “ainda não foi o suficiente”.

Mas é uma sensação indescritível ter ao alcance de um abraço todas aquelas pessoas que significam algo pra mim. Esse encontro, em particular, marca minha trajetória por ter me dado acesso à pessoas que à muito tempo eu queria conhecer. Destaco, em especial, o Kako no meio delas.

Em Belo Horizonte... os Pkmaxianos! São pessoas incríveis, onde eu deposito um carinho enorme. Em minha vivência, eles servem não somente como referência para o Parkour, mas também como seres humanos. Eu lamento do fundo da alma estar tão cansado no dia que passamos em Minas. Não estava bem, minha cabeça doía, meu corpo estava fadigado das mais de 10 horas de carro e sem dormir. Isso pra não reclamar do esgotamento físico proporcionado pelo workshop do Thomas no dia anterior. Então, até peço desculpas aos mineiros pelo “Duddu Zumbi” que aportou na terra deles. Lá, eu, Bacon, Gustavo e Leo ficamos hospedados na casa do Arthur. Foram momentos de muita conversa, risadas e comilanças (meu deus, me senti um rei!). Arteba, meu querido, valeuzão por tudo de coração!

Rumo a Brasília, pegamos estrada pela noite e foi uma canseira sem fim, cerca de 12 horas novamente em um carro e com o Kalebe cantarolando as músicas mais chatas do planeta enquanto eu tentava dormir. Eu estava com tanto sono e anestesiado que nem os beliscões do Kazuma me causavam mais dor. Pegamos o evento já na metade então só deu pra aproveitar o segundo dia.

Cara, eu precisava desse dia em Brasília! Fomos recebidos de braços abertos pelo BRTracer e eu não fazia idéia de como os brasilienses eram legais. É que todo contato que tive anteriormente com eles, me passava uma impressão meio fria, inflexível, rígida e sem sentimento. Com exceção do Miih e do Alex Pires, eu tinha impressão que aquela cidade era um criadouro de pessoas chatas. Engano gigantesco.

A começar pelo Santigas, que se revelou pra mim (ui!) uma pessoa extremamente legal. O jeito caladão dele sempre me causou aquela sensação de “não sou bem-vindo aqui” e por isso eu antes mantinha uma certa distância. Burrice. O cara é um amor de pessoa e eu realmente fiquei impressionado de como não tinha percebido antes. Valeu de coração por tudo meu velho!

Eu podia citar de um por um: O Leandro que eu não conhecia e que de cara me apaixonei! O Miih... mas esse nem vale a pena falar nada (s2). O famoso Breno que tanto eu ouvia falar (melhoras no pé, rapaz!). O Manoel que é um monstro fofinho! O Maurício, que é um cara que um dia eu vou perder a amizade por jogar um pedra na cabeça! O Belém... ah o Belém... o cara que sempre que encontro arruma um jeito de colocar perguntas em minha cabeça que perduram por semanas, meses e tem algumas que até estão completando aniversário em Setembro (hauhauauauhu!).

Eu revi o Butuí! O Beto! O Pedrinho Thomas! O outro Pedrinho! Os meus amados Renatto, Racir e Pedro de João Pessoa! A Poli! O Alex! Conheci o Bernardo! Ah cara... vou parar por aqui! Se eu te esqueci não é porque você não é importante é porque eu tô com sono... A Sofia!! Tá vendo que é sono, mesmo? Eu jamais esqueceria a Soso...

De volta a Sampa, o Thomas pegou o avião dele e eu o meu. Eu teria ainda mais 5 dias em Salvador até voltar pra casa. Lá, eu fui com o Gustavo na Coordenadoria de Esportes falar sobre o Encontro Brasileiro e já deixamos algumas coisas encaminhadas. No final de semana pude participar de mais um Acamparkour. Dois dias acampados numa faixa de terra que divide o Rio do Mar. São momentos de muito relaxamento mesclados com muito treino exaustivo e “cortante” por dentre os mangues. São horas que valem cada minuto! E só tenho a agradecer ao Guga, ao Fred, ao Joe e ao Fallux (mesmo esse faltando o acampamento todas às vezes) pelos momentos fodas que eu passo naquela terra.

Pois é isso. Estou de volta a minha casa. Treinando que nem um cavalo. Esperando as aulas da faculdade começarem. Em busca de um emprego. E vivendo a minha vida.

Cada vez que o Parkour se manifesta no meu dia, seja em lembrança, seja em treino, seja em internet... eu sinto que ele contribui significativamente pra me tornar a pessoa melhor que irá acordar em minha cama no próximo amanhecer.

E essa sensação é impagável.

PS: A vivência com o Thomas e o Kazuma merece um post especial, por esse motivo me abstive de comentar sobre eles. Assim que minhas idéias se ordenarem novamente, eu volto pra tentar colocar em palavras o que consegui absorver.